“Bipolares, disruptivas, autistas, hiperativas, opositivas, desatentas, desafiadoras, aspergers – somando todas, ainda restariam crianças normais?”

em 13/11/2020

Por Rossano Cabral Lima

No artigo denominado Psiquiatria infantil, medicalização e a síndrome da criança normal , Rossano Cabral Lima aborda o panorama histórico da psiquiatria infantil no Brasil e no mundo. Contextualiza o “normal” e o “patológico” através dos tempos.
Aborda a psiquiatria de crianças e adolescentes da atualidade sob o enfoque do espectro da medicalização. Traz a reflexão acerca do diagnóstico de determinadas patologias no contexto cultural de hoje em dia, discorrendo sobre o TDA/H (Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade), frequentemente associado ao TOD (Transtorno Opositivo Desafiador), TEA (Transtorno do Espectro Autismo) e TBI (Transtorno Bipolar Infantil). Este último, especialmente, praticamente inexistente no passado.
Rossano apresenta o limiar entre a normalidade e a patologia e questiona: “Bipolares, disruptivas, autistas, hiperativas, opositivas, desatentas, desafiadoras, aspergers – somando todas, ainda restariam crianças normais?”. Apresenta, então, de forma leve e inteligente, a SNC (Síndrome da Criança Normal). Nos convida a refletir sobre os ideais de normalidade estabelecemos às nossas crianças e questiona os padrões adultos impostos pelos critérios diagnósticos da psiquiatria.
O autor finaliza o artigo refletindo sobre os transtornos descritos no DSM e na CID, que não trazem uma definição sobre o que a criança é, mas sim, modos de descrever o mal-estar que têm impacto na vida dessas crianças e adolescentes, considerando o contexto no qual esse indivíduo se encontra inserido.

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A PSICOMOTRICIDADE AUXILIANDO O TRABALHO DO PROFESSOR

Em 14/10/2020

Por Sonia Maria Gouvêa Leite

Colaboradoras: Maita Mendonça Bittar e Patricia Cortes de Melo dos Santos

“ Novos órgãos da percepção passam a existir em 
consequência da necessidade. 
Portanto, ó homem, aumenta tuas necessidades e 
poderás expandir tua percepção”. 
JALLALUDIN RUMI

A Educação no Brasil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases –LDB-, criada em 1996, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos: físico, psicológico, intelectual e social. Considera como dever do Estado a atuação e propagação do ensino elementar. 
No título II que trata dos Princípios e fins da educação Nacional, o artigo 2º estabelece: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Quanto ao pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania, se percebe um dos princípios e fins da Educação, sobretudo nas práticas educativas, onde se encontram diversos obstáculos para assegurar o cumprimento do estabelecido na lei.

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PESSOAS PRESTANDO ATENÇÃO: DE QUE “SOFREM” NOSSAS CRIANÇAS E NOSSOS JOVENS?

em 26/08/2020

Por Ana Maria Genescá

É, principalmente, na interação da criança com as práticas escolares e pedagógicas que se visibilizam determinados comportamentos/sinais que são reconhecidos ou nomeados como falta de atenção.

Seria a escola produtora de tais sintomas?

Até há algum tempo a questão da desatenção não se colocava tal como se coloca hoje e nem com a mesma intensidade.

O que mudou?

Houve uma “mutação genética”?

Sofremos alguma “radiação”?

Se sim, de que natureza seria essa “radiação”?

A escola não pode se pensar sozinha. Ela é um fio de uma rede muito maior, na qual se entrelaçam todas as forças da sociedade.

Nesse sentido, proponho olharmos em volta. Olharmos para o que vimos apresentando enquanto sociedade; olharmos para o paradoxo que parece existir entre o que se reconhece ou se nomeia como atenção e os comportamentos que se manifestam na vida contemporânea quase como uma exigência; e olharmos para como a escola tem dialogado ou não com esta realidade.

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A PSICANÁLISE COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO NA PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA

Em 29/07/2020

Por Ana Celina Vasconcellos

“Antes de começar gostaria de agradecer a Maria Luiza Leão e ao TEKOA ao convite feito ao Pró-Saber e à oportunidade por estar aqui e falar sobre a prática psicopedagógica da clínica do Instituto Superior de Educação Pró-Saber. Falo em nome da equipe que acompanha o trabalho clínico: a Cinthia Vieira, a Danielle Goldztajn, a Laís Machado e a Teresa Ourivio.

O TEKOA como centro de estudos começa por perguntas e levanta questões… e eu dou prosseguimento à essas questões: como podemos, através da prática psicopedagógica, constatar a psicanálise como elemento constitutivo do nosso trabalho? Como a Maria Cecília Almeida e Silva, diretora do Pró-Saber gosta de lembrar: trazer a peste para a psicopedagogia tal qual Freud teria comentado para Jung em 1909: “eles não sabem que lhes estamos trazendo a peste? ” Quando os dois visitaram os Estados Unidos a convite de Stanley Wall da Universidade Clark de Worcester, referindo-se aos seus estudos do psiquismo humano.  

E o que significa trazer a peste para a psicopedagogia? Qual é a importância da psicanálise para a psicopedagogia? O que significa isso?

Compreender o passado é estar no presente e construir o futuro

O histórico da Psicopedagogia

Meus estudos iniciais nesse campo foram feitos no CEPERJ[1], tal qual muitas de vocês, aqui representado pelas nossas queridas professoras Maria Apparecida Mamede e Maria Luiza Teixeira e remontam ao tripé da Psicopedagogia, advogado pelo professor argentino Jorge Visca (1935-2000).
A Psicopedagogia até então surge para atender crianças com dificuldade de aprendizagem. Com Jorge Visca a psicopedagogia torna-se um conhecimento singular tendo como objeto de estudo o processo de aprendizagem. Seu enfoque teórico foi por ele denominado de epistemologia convergente em função da integração recíproca das contribuições das escolas psicanalítica, piagetiana e da psicologia social de Pichon-Rivière. Visca estuda o processo de aprendizagem em crianças vistas a partir dos aspectos: racional, relacional e afetivo que confluem no aprender do ser humano.


[1] Centro de Estudos Psicopedagógicos do Estado do Rio de Janeiro

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A TRANSFERÊNCIA E A DIMENSÃO DRAMÁTICA DA PSICOPEDAGOGIA

24/06/2020

Por Anne Marie Bouyer

(Anne Marie Bouyer é graduada em Psicologia, com especialização em psicopedagogia clínica e psicanálise. Possui formação em massagem biodinâmica e análise psico-orgânica. Palestrante na área de Estresse, facilitadora em dinâmicas de grupo. Atua na área de treinamento e desenvolvimento humano, bem como atendimento clínico como psicóloga, psicopedagoga e em orientação profissional.)

Em seu artigo, Anne Marie aborda a transferência como fenômeno que ocorre nas relações humanas situando seu discurso sobre a dimensão dramática da psicopedagogia. Sobre a palavra transferência, a autora apresenta, após uma breve explicação sobre o termo e o seu significado etimológico, o significado sob o ponto de vista psicodinâmico e lacaniano. Através de cinco perguntas, o texto abre possibilidades reflexivas ao leitor.

A reflexão inicia-se apontando para a diferenciação entre o fenômeno da transferência vivido na vida cotidiana de um sujeito, daquela transferência vivida no setting terapêutico, no trabalho analítico. Além disso, a autora questiona qual o lugar que o psicopedagogo ocupa no imaginário desse sujeito-cliente. Para pensar a questão, o posicionamento de Freud sobre a constituição subjetiva do sujeito é abordado, valorizando a importância da relação mãe-filho, das relações primárias, na construção da matriz do desejo. O texto aborda também a ressonância afetiva que o sujeito, por algum motivo, estabelece com o psicopedagogo, colocando-o no lugar de uma figura significante, como o pai ou a mãe. 

Ao falar da resistência como mecanismo de defesa do sujeito e tratar de como ela surge durante o tratamento psicopedagógico, Anne Marie evidencia a necessidade de uma disponibilidade interna, acolhedora, do psicopedagogo, pontuando a habilidade que o profissional deve ter ao manejar a transferência para que o sujeito possa ressignificar suas ações e a sua interação com o aprendizado. A autora fecha o texto discorrendo sobre o lugar do psicopedagogo na clínica da aprendizagem, apoiando-se na transferência.

O artigo de Bouyer oferece ao leitor uma bela possibilidade de pensar a dimensão simbólico-desiderativa da aprendizagem, incluindo a ação do psicopedagogo em sua avaliação clínica; reflexão apoiada no fenômeno universal da transferência, carro chefe da psicanálise, instrumento importante no manejo da clínica psicopedagógica e das relações humanas em geral. 

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AMOR E PEDAGOGIA

13/05/2020

Por Sara Pain

(Sara Pain é argentina, Doutora em Filosofia pela Universidade de Buenos Aires e Doutora em Psicologia pela Universidade de Neuchatel, Suíça.)

Através dessa mensagem, de modo poético, Sara Pain declara seu amor dedicado ao ato de educar, aos educadores e à militância pedagógica.
O Tekoa, Centro de Estudos da Aprendizagem, com entusiasmo, faz coro às palavras de sua querida colaboradora cientifica!

O que é educar?

Fazer do outro nosso semelhante. Ensinar é exercer o desejo reprodução na sua forma mais radical, pois carente de inscrições instintivas, o ser humano só chega a ser ele próprio através da aprendizagem.(…)

(…) O amor que permite educar, é o amor pelo que se é, mas somente na medida em que cada um de nós é depositário de uma cultura comum a um grupo e mais além ainda dessa cultura particular, das conquistas próprias ao ser humano em geral.

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O NÃO E O SIM, NA FAMÍLIA, NA ESCOLA, NA VIDA E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO QUE APRENDE E DO SUJEITO QUE NÃO APRENDE

13/04/2020

Por Maria Luiza Oliveira Castro de Leão

(Maria Luiza Oliveira Castro de Leão é Doutora em Ciências da Educação por Paris V Sorbonne. Psicopedagoga, Professora, Pesquisadora e Diretora do Tekoa. Autora do livro O Pensamento Teórico do Tekoa. Rio de Janeiro. Publit.2013.)

No presente artigo, Maria Luiza Leão aborda a importância do Não e do Sim na constituição psíquica do sujeito aprendente nos diferentes contextos sociais. A escola, a família e a vida que o cercam serão repletas de Sins e de Nãos e, com propriedade, a autora nos instiga a fazer uma reflexão acerca da função paterna e da função materna, através de contribuições advindas da psicanálise e tão importantes no exercício da psicopedagogia que estuda o pensamento no ato de aprender.

Maria Luiza traz o Não como uma forma de socialização, que permite  a entrada do sujeito na cultura e na coletividade. Já o Sim, ela enfatiza em sua relação como o acolhimento, a aceitação, o asseguramento e a particularização do sujeito, lembrando que ambos, o Não e o Sim , a função paterna e a função materna  estão constantemente articulados na conduta de um bom educador.

A autora também trata do posicionamento do sujeito na triangulação edípica, e faz uma aproximação esclarecedora acerca dessa relação com a aprendizagem e a não aprendizagem deste sujeito.

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TORNAR-SE AUTOR: MAIS ALÉM DA AUTORIA PARTICULAR DE COMPETÊNCIA RECONHECIDA

03/03/2020

por Ana Maria Carpenter Genescá

(Ana Maria Carpenter Genescá é Mestre em Psicologia pela PUC-RJ com especializações em Psicopedagogia, Grupos Operativos e Currículo e Prática Educativa. Além da prática clínica, tem prática docente – em pós lato sensu, graduação e ensino médio – e exerceu funções de direção e coordenação pedagógica com foco na formação de professores, tanto em instituições da rede pública como da rede privada. Atualmente é docente e pesquisadora do Centro de Estudos Psicopedagógicos Pró-Saber e coordenadora do curso de especialização em Psicopedagogia.)

A autora inicia o texto fazendo a seguinte interrogação: “De que lugar podemos pensar a questão da autoria? Ela então nos apresenta, a partir de olhares diferentes, a definição de autor e liga o processo de escrita ao de leitura. “Tornar-se autor implica em fazer-se leitor e expressar a leitura feita”.

De que lugar podemos pensar a questão da autoria?

Do lugar onipotente dos criadores de mundos/discursos?

Do lugar da potência/promessa de trazer ao real as virtualidades?

Ou do lugar impotente – mas não pessimista, nem niilista – da impossibilidade de qualquer autoria legítima, lugar que considera a autoria uma grande utopia?

O senso comum diz que autor é aquele que leva consigo a marca do criador, que divide com os deuses o fogo e o poder; aquele que tem o “dom” da palavra; que sabe dar forma ao indizível, ao inefável; e domina a arte de agarrar em figuras (metáforas) os sentidos traiçoeiros e escorregadios.

Há quem diga que autor é aquele que, por antecipação, bota ordem no caos nosso de cada dia, que dá forma aos informes e disformes sentires humanos, que se adianta no tempo, adivinhando os desejos latentes do homem – esse desconhecido de si mesmo; que, embora criatura, participa da vida como cocriador do universo.

Mas há quem diga que nada se cria neste universo já criado, que tudo que se diz e se escreve já está de certa forma inscrito como possibilidade, como vir-a-ser. O autor apenas daria forma ao que era, até então, promessa.

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O GATURAMO: A INFLUÊNCIA DA ALEGRIA DO APRENDER NA ESCOLHA DAS SUAS OPÇÕES PROFISSIONAIS

24/01/2020

Neste artigo, Maria Inês expõe, de maneira afetuosa, a influência que o CEAT gerou em sua vida profissional, acadêmica e pessoal. Foi no espaço do Centro Educacional Anísio Teixeira que a autora vivenciou a experiência social da alegria de aprender. Transitando por diversas formações e ocupações, para Maria Inês, ser professora proporciona uma alegria que se situa entre o aprender e o ensinar: ao ensinar se aprende e ao aprender se ensina. Ao longo do seu relato, nos mostra que seus percursos sempre a levaram ao magistério. Este fato se confirma quando explicita que, mesmo ainda sem saber o que queria fazer, conseguiu sua primeira ocupação remunerada como professora. A autora ressalta a importância de sua análise pessoal na trajetória como professora, psicóloga e psicanalista, enfatizando que tal análise a permitiu utilizar um termo que foi criado por ela, denominado “aprender em si mesmo”. A psicanálise se mostra como um importante postulado em sua carreira. Freud e Lacan são dois autores que tornam um dos pilares teóricos que norteiam o percurso de Maria Inês. Neste artigo, encontramos relatos cheios de inquietudes e que nos mostram que a aprendizagem é um fenômeno dinâmico. O conhecer requer que o saber instituído seja sempre questionado, buscando, assim, novos paradigmas, novas aprendizagens e conhecimentos.

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Os três grandes da educação: Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro não podem ser esquecidos

19/11/2019

Quem lida com a História da Educação, como é o nosso caso, titulares que fomos da matéria na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tem que tomar certos cuidados para não cometer injustiças. A maior delas pode ser remeter certos nomes para o esquecimento, como se não tivessem existido.

Vejamos três deles com os cuidados devidos. O primeiro é Anísio Teixeira, educador baiano, que faleceu num desastre dramático quando disputava uma vaga na Academia Brasileira de Letras (caiu do elevador do apartamento de Aurélio Buarque de Holanda e ficou dois dias desaparecido).

Anísio, criticado como sendo de esquerda, na verdade foi discípulo de John Dewey, nos Estados Unidos, onde estudou Administração Escolar. Não consta que Dewey tenha tido ideias marxistas. Anísio foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília e antes tinha criado a UDF (Universidade do Distrito Federal, origem da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Escreveu diversos livros de sucesso, defendendo ideias progressistas.

Depois, podemos citar Paulo Freire, de renome internacional. Criou um método de alfabetização que correu mundo, utilizando palavras-chave em lugar do então utilizado método fônico ou silábico. Diz-se que ele fazia proselitismo com as suas ideias, mas o que deve ser questionado é o valor do método. Nos anos 1960 teve o seu método, conhecido como Pedagogia do Oprimido, utilizado com sucesso pelo MEC no Programa Nacional de Alfabetização, até ser cassado. Foi secretário municipal de Educação de São Paulo, de 1989 a 1991.

O terceiro dos grandes é Darcy Ribeiro, indiscutivelmente um homem de esquerda, com ideias de vanguarda. Serviu ao governo Leonel Brizola, que tinha princípios revolucionários, mas é verdade que Darcy deixou uma forte marca na educação brasileira. Estivemos com ele algumas vezes, pois me pedia para ajudá-lo na aproximação com o Estado de Israel, para a valorização do ensino de Matemática e Informática.

Arnaldo Niskier é jornalista e professor

Artigo publicado na coluna opinião do Jornal O Globo em 13/04/2019