PENSE NISSO

20/04/2017

 

“Crianças dinamarquesas: o que as pessoas mais felizes do mundo sabem sobre criar filhos confiantes e capazes” livro, publicado em 18 países e recém-chegado ao Brasil, afirma que as crianças da Dinamarca são as mais felizes do mundo.
O Globo entrevistou as autoras Iben Sandahl e Jessica Alexander.

Por que as crianças dinamarquesas são mais felizes?
Iben: Os dinamarqueses dão muita importância à socialização e à formação da criança como um todo, em vez de somente destacar suas notas e conquistas. Ensinamos ativamente a empatia, o que torna a criança capaz de levar uma vida autêntica, de se conhecer e agir a partir disso. As crianças dinamarquesas sabem que os desafios e problemas não as derrubam, porque não são poupadas disso na criação. A brincadeira também é considerada importante no aprendizado, mesmo com toda a pressão para ter as crianças engajadas em várias coisas que dão resultados mensuráveis. Não há nada a “realizar” numa brincadeira e a personalidade da criança pode se desenvolver. Isto é um dos grandes motivos para nosso país ser o mais feliz do mundo.

Os pais dinamarqueses sabem dizer “não” para seus filhos?
Iben: Uma abordagem não disciplinadora da criação não significa que os limites não existam. Pelo contrário! Trata-se de estabelecer regras que criam um sentimento de segurança para a criança de uma forma respeitosa. Mas os conflitos de força podem ser algo difícil de evitar, apesar de tudo. Na Dinamarca, tentamos não entrar imediatamente nessas disputas.
Jessica: Dinamarqueses são muito bons em estabelecer limites, mas fazem isso com respeito e explicação. Não é fácil, mas costumo dizer que os dinamarqueses enxergam o papel de um pai ou uma mãe como um farol: eles enviam sinais consistentes, e as crianças devem aprender como navegar em suas vidas. A questão não é controlar, mas, sim, guiar.

Pais que vivem em países com condições socioeconômicas bem diferentes da Dinamarca podem, mesmo assim, aprender com o livro?
Jessica: Não moro na Dinamarca, mas uso a conduta dinamarquesa. É uma filosofia. Todos podem, por exemplo, dar a seus filhos mais tempo para brincar. Ensinar o valor da empatia, também. É claro que a qualidade de vida na Dinamarca, com toda sua estabilidade e benefícios, torna mais fácil aplicar esses ensinamentos, mas muitos podem ser adotados ao redor do mundo.

Você percebe diferenças na criação de filhos entre os países que conhece?
Jessica (morando na Itália): Sim, enormes! Vejo os Estados Unidos como extremamente competitivo e acadêmico: tudo precisa ser medido e classificado com notas. Na Dinamarca, o foco é no espírito colaborativo. Os alunos não recebem notas antes dos 13 anos. A Itália… bem, a Itália não é muito moderna. Diria que o estilo da educação aqui na Itália está mais para o autoritário. Está ocorrendo um intenso debate, porque a França tornou a palmada ilegal (na Dinamarca, a palmada foi banida nos anos 90). E na Itália, a palmada ainda é amplamente aceita. Mas é bem marcante, por exemplo, a importância da família na sociedade.

Já viveu alguma situação diferente, no exterior, que chamou sua atenção sobre a criação dos filhos?
Jessica: Os italianos são muito protetores. Então, a abordagem dinamarquesa, de dar liberdade aos filhos, deixá-los cair e se sujar, é muito nova aqui. Quando eu saio com os meus filhos, os italianos acham que eles são completamente selvagens!

Leitores de outros países já demonstraram algum estranhamento?
Iben: A brincadeira livre é estranha para muitos. Deixe a criança ser criança e brincar mais! Isto é algo que temos feito há tempos. Com essa liberdade, a criança explora o mundo ao redor sem muita interferência dos pais e se desenvolve sem perceber, nos seus próprios termos. Assim, ela pode escolher o que fazer. Hoje em dia, os pais estão tão preocupados em programar tudo para os filhos que muitas crianças não têm a habilidade de tomar decisões.

Os psicopedagogos valorizam que as crianças brinquem e se sintam felizes e confiantes, pois a confiança e a alegria lhes dão autonomia de pensar e agir, que conduzem a aprendizagens autênticas. Apesar das diferenças socioeconômicas e culturais entre os países, a entrevista nos faz pensar no quanto a cultura familiar tem papel fundamental na formação da criança e no quanto a escola pode contribuir ou não nesse sentido, independentemente do país em que vivam.

Fazendo um paralelo com as crianças do Brasil, o que você diria? Será que o nosso modelo educacional vigente ajuda a tornar nossas crianças felizes e confiantes? Possibilitamos a elas que brinquem livremente, se socializem, se expressem e explorem os espaços? Ensinamos a elas o valor da empatia, do respeito e da boa convivência? Como família, será que oferecemos qualidade de tempo aos filhos? Valorizamos esses momentos? Permitimos que eles convivam adequadamente e suficientemente com amigos, outros familiares e comunidade?

Pense nisso…

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/livro-investiga-como-pais-mais-feliz-do-mundo-cria-seus-filhos-20777231