O ALCANCE E A ESPECIFICIDADE DA PESQUISA NO CAMPO DA PSICOPEDAGOGIA

26/06/2017

Sara Pain

 

Frequentemente a primeira experiência de pesquisa responde à exigência de se produzir uma tese para se obter um diploma. Essa norma acadêmico-universitária obriga muitas vezes os doutorandos, antes mesmo de terem uma experiência profissional, a escolher um diretor de pesquisa e um tema. O candidato apresenta assim, uma questão de circunstância que não vem, na maior parte das vezes, de um verdadeiro questionamento que o compromete enquanto sujeito. Essa norma favorece então, hábitos intelectuais mecânicos no qual o contexto está ausente, tanto de um ponto de vista objetivo – por que a pesquisa surge no momento-agora social? – quanto subjetivo – por que esse tema me interessa, o que ele tem a ver com a minha vivência? A consequência é que a pesquisa da tese se realiza, frequentemente, sem uma real paixão pela descoberta e pelo saber; paixão que é ainda mais necessária quando a investigação se faz no campo da psicopedagogia cuja preocupação prioritária incide justamente nos mecanismos e nas ausências da paixão de aprender. Um outro aspecto negativo se acrescenta ao primeiro: muito frequentemente o candidato coloca a resposta ao mesmo tempo que a pergunta, seguindo uma teoria cujos princípios não precisam mais ser provados; isso fecha, desde o começo, o caminho da descoberta e favorece o dogmatismo. O profissional que, para além da tese, quer fazer pesquisa, deve previamente, se desfazer de tais hábitos e se lançar na aventura da investigação com a bagagem cheia de questões surgidas da sua própria prática, certamente com uma bússola que lhe marque o Norte, mas sem preconceitos sobre os múltiplos caminhos para lá chegar. O que não quer dizer que os trajetos se fazem ao acaso ou, como se diz frequentemente, por intuição. A pesquisa é uma disciplina que exige metodologia e, muitas vezes, a elaboração da mesma é a principal conquista da empreitada. Como para a arte, o método faz o estilo. O exemplo mais claro de solidariedade entre teoria e método nós encontramos na genialidade de Piaget, como também na genialidade de Cézanne. Evidentemente, como diz o poeta Luiz Aragão, « todo o mundo não é Cézanne, nos contentaremos com menos, porém trata-se, para cada um, de não renunciar ao esforço da busca a ao prazer pela descoberta.

O campo da psicopedagogia tem características específicas às quais os trabalhos de pesquisa nem sempre respondem com clareza. O primeiro a se levar em conta é que a psicopedagogia não é uma ciência propriamente falando, mas uma práxis, uma prática terapêutica que intervém sobre uma prática multifatorial, a da aprendizagem. Ela tem, evidentemente, referências científicas que lhe servem de fundamento, mas ela justifica a veracidade desses fundamentos mais que esses fundamentos a justificam. Como toda prática, a principal justificativa de sua pertinência é sua eficiência. Os efeitos da ação psicopedagógica são, para a pesquisa de campo, mais relevantes que as causas que os produzem. Não se trata apenas dos efeitos considerados sobre o eixo êxito/fracasso. Trata-se, antes de tudo, de se considerar os fatos que o sujeito produz em situação de aprendizagem: vivências, gestos, comportamentos, expressões, etc.

Sendo uma disciplina eminentemente prática, o objetivo especifico da pesquisa em psicopedagogia não visa fundamentos e princípios que ela extrai de outras disciplinas, como a sociologia, a psicologia, a biologia e mesmo, a filosofia. Desse modo, um tema como as diferenças das performances intelectuais segundo as classes socioeconômicas é propriamente sociológico, ele não nos dirá nada sobre as funções da aprendizagem; um tema sobre a gênese de uma noção específica, própria da psicologia epistêmica, não nos informará sobre o nosso interesse central que são as diversas estratégias que as diferentes individualidades mobilizam dentro de um mesmo nível estrutural. A falta de atenção pode ser um tema de pesquisa fármaco-medical, mas a localização no cérebro de uma zona atencional não acrescenta em nada ao conhecimento das flutuações de atenção em relação às variáveis circunstanciais: interesse, duração, rotina, etc. A psicanálise pode desvendar o momento traumático ligado a uma função epistêmica perdida, mas dificilmente a interpretação é suscetível de dar conta de um comportamento cognitivo mais extenso. Assim, uma criança que omite a letra «h» na palavra homem, o psicanalista interpretará facilmente um conflito de identificação sexual. No entanto, os sujeitos que comentem esse erro e o repetem para todas as palavras que têm uma letra muda, a descrição desse sintoma pode orientar o psicopedagogo a considerar a relação simbólica do sujeito com a lei que rege o que não se pronuncia pela voz. Essa hipótese surge diretamente da descrição da tarefa a ser realizada sem que o complexo de édipo seja evocado.

 

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