“A BALEIA AZUL” E O SUICÍDIO JUVENIL: UM BREVE OLHAR DA PSICOPEDAGOGIA

31/05/2017

 

Recentemente, um tema ganhou fama e grande importância nas redes sociais e na mídia, o jogo “A Baleia Azul”. O assunto teve tanta repercussão que gerou muitas discussões, debates e polêmicas, atraindo a atenção não apenas do público em geral, mas também de profissionais da área de saúde, educação e segurança. Afinal, por que esse jogo ganhou tanta atenção?
O jogo “A Baleia Azul” surgiu a partir de uma lenda criada há alguns anos na Rússia, que apontava que 5 meninas da Sibéria teriam cometido suicídio em função do jogo. A história acabou atraindo a curiosidade e buscas por informações em torno da mesma. Ao longo do tempo, essa história foi crescendo, alimentada por boatos e notícias falsas, até chegar nos 50 desafios que compõem o que se conhece do jogo, nos dias de hoje. Esses desafios incluiriam a automutilação e o suicídio.
O que começou como uma lenda se tornou um problema de saúde e segurança pública, trouxe à tona um assunto até então considerado tabu para a sociedade: o suicídio juvenil. Notícias recentemente divulgadas apontam que o jogo estaria sendo utilizado de verdade por criminosos, para atrair jovens vulneráveis e através das redes sociais, estimulá-los a cometer suicídio. Este ano, no Brasil, foram registrados vários casos de automutilação e suicídio, alguns deles vem sendo investigados por possível ligação com o jogo.
O suicídio juvenil, no entanto, não é tão recente quanto o jogo, vem crescendo exponencialmente ao longo dos anos e pouco é divulgado ou discutido. É a segunda maior causa de morte entre os jovens.
O que o jogo nos traz, porém, não é apenas a certeza da insegurança de nossos jovens (mesmo que estejam dentro das nossas casas), mas a necessidade de questionarmos os motivos que levam alguns deles a se ferir ou tirar a própria vida, de questionarmos a forma como a nossa sociedade se comporta diante dos jovens e diante de assuntos como a morte.
Vivemos num mundo em que temos que estar felizes o tempo todo. O triste, o deprimido é visto como um fracassado, um perdedor, aquele não tem força de vontade para melhorar ou vencer suas angústias e tristezas. A morte é tratada de uma forma superficial, afinal, a “vida continua”, é “bola pra frente”. O luto não pode existir, o choro muito menos. Temos que engolir e seguir em frente, sorrindo de preferência. Nós do TEKOA, como psicopedagogos, propomos até a elaboração de uma psicopedagogia da morte e do luto, através da qual possamos pensar nas aprendizagens relativas a esse tema.
Não falamos sobre suicídio. Não falamos sobre a morte. Não falamos sobre a angústia, a tristeza, a dor. Precisamos rever nossa postura diante de todas essas questões que são inerentes ao ser humano. Fazem parte da vida. Precisamos conversar mais com nossas crianças e jovens, oferecer espaço para o diálogo e estarmos atentos aos sinais de que algo pode estar errado com eles.
Cerca de 90% dos casos de suicídio e tentativa de suicídio estão associados a transtornos psiquiátricos como a depressão e a ansiedade. Não é silencioso e na maioria dos casos, o indivíduo apresenta sinais claros de que pretende tirar a vida.

Pais, professores e amigos devem ficar atentos se o jovem:
Apresentar mudanças em sua personalidade; agir de maneira muito ansiosa e agitada ou se mostrar deprimido; tiver uma queda no desempenho escolar; perder interesse em atividades que sempre gostou de realizar; se isolar, se afastar da família e dos amigos; fazer comentários autodepreciativos frequentemente; se mostrar desesperançoso sobre o futuro, falar da vida de maneira sempre negativa; falar sobre a morte, sobre pessoas que morreram, mostrar interesse no assunto; falar de maneira clara ou implícita que tem vontade de morrer.
Como ajudar:
Chame o jovem para um lugar tranquilo e calmo e pergunte o que ele está sentindo; tente não fazer julgamentos e cobranças ou dar conselhos que se baseiem na sua própria experiência; não diminua o problema dele; se a conversa se desenrolar, é importante perguntar se ele já pensou em suicídio; conduza a pessoa na busca por ajuda profissional (ele pode não conseguir tomar essa iniciativa sozinha, então é importante marcar uma consulta e se oferecer para acompanhá-lo).
Para ajuda imediata:
CVV – Centro de Valorização da Vida
A organização trabalha com a prevenção do suicídio e oferece atendimento 24 horas pela internet, no site www.cvv.com.br, e pelo telefone 141 (custo de uma ligação local. No Rio Grande do Sul a ligação é gratuita para o número 188)

 

 

 

Fontes: A CULPA É DA BALEIA-AZUL: 13 razões para se discutir a sério a questão do suicídio e da automutilação em crianças e adolescentes – Jornada da Abenepi-Rio em: 06/05/2017;
BENINCASA, Miria; REZENDE, Manuel Morgado. Tristeza e suicídio entre adolescentes: fatores de risco e proteção. Bol. psicol, São Paulo, v. 56, n. 124, p. 93-110, jun. 2006. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006- 59432006000100007&lng=pt&nrm=iso;
Vamos Falar Sobre Suicídio Sempre Com Cuidado. Disponível em:http://cvv141.blogspot.com.br/2017/05/vamos-falar-sobre-suicidio- sempre- com.html;
A Tragédia do Suicídio Juvenil. Disponível em: <http://istoe.com.br/tragedia-suicidio-juvenil/>;
Baleia Azul: o misterioso jogo que escancarou o tabu do suicídio juvenil. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/27/politica/1493305523_711865.html;
Desafio da Baleia Azul Pode Ter Causado Internações. Disponível em: <http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/16195969/pr-desafio-da- baleia- azul- pode-ter-causado-internacoes.html>.

Imagem: A Tragédia do Suicídio Juvenil. Disponível em: <http://istoe.com.br/tragedia-suicidio-juvenil/>.
Vídeo: Disponível em: https://twitter.com/JornalOGlobo/status/856960144684580865.